domingo, 12 de agosto de 2012

Sem motivos para comemorar


COMEMORAÇÃO PELO 'DIA DO ADVOGADO'‏

No último dia 11 (quarta-feira) foi comemorado o Dia do Advogado no Brasil. Por todo o país houve manifestações, principalmente cobrando mudanças no Judiciário face à conhecida morosidade, dentre outras mazelas.Contudo não se buscará aqui tratar desse tema tão debatido, mas sim de outro que aflige a maioria dos causídicos: a desvalorização da profissão.

A advocacia sempre foi uma carreira respeitada, e seus personagens, pessoas tidas como possuidoras de intelecto privilegiado e de situação econômica confortável. A realidade atual é muito diferente, e a profissão mantém uma aparência, um status do que já não se faz presente.

O que há é uma elite de causídicos, formada principalmente pelos sócios dos grandes escritórios que representam concessionárias de serviços públicos e que enriquecem absurdamente, salvo raríssimas exceções, enquanto a grande massa de advogados enfrenta inúmeras dificuldades para sobreviver e tentar um dia se estabelecer no mercado.

Muitos dos grandes escritórios de advocacia no Rio de Janeiro não contratam mais advogados, não assinam suas carteiras, mas os admitem como "advogados associados", pagando-lhes em média R$ 1.200,00, sem direito a auxílio transporte, alimentação, qualquer outro benefício e com expediente das 9 às 18h, desrespeitando o piso salarial da categoria bem como a jornada de trabalho prevista no Estatuto da Advocacia.

Não é necessário investigar. A constatação se faz ao ler os classificados nos jornais de grande circulação, bem como os sites de vagas de emprego. Esses mesmos escritórios contratam advogados para somente fazer audiências, com valores que chegam a R$ 11,00.

Por esse motivo, muitos, para sobreviverem dignamente, utilizam-se de métodos que vão de encontro ao Estatuto de Ética e Disciplina da OAB, exemplificados em: utilizar-se de agenciadores de causas, que passam o dia em frente às delegacias do trabalho e das principais concessionárias de serviços públicos com o objetivo de atrair consumidores com problemas para os escritórios; trabalhar em conjunto com outras atividades, como administração e corretagem de imóveis; utilizar-se de publicidade com previsão de consulta grátis, pagamento facilitado e até consulta ao SPC e ao Serasa.

O Conselho Federal da OAB recentemente decidiu criar comissão para verificar casos de realização de audiências por valor irrisório. Isso ainda é muito pouco do que se espera do Conselho Federal da OAB, a qual tenta lutar ferrenhamente contra as injustiças do país, mas é incapaz de olhar para as dificuldades que seus integrantes enfrentam no dia-a-dia.

Talvez isso mude no dia em que o Conselho Federal for eleito por voto direto de todos os advogados do Brasil, pois é incompreensível que uma entidade que luta por democracia tenha sua diretoria maior escolhida indiretamente.

Os advogados do país não têm o que comemorar, mas sim orgulharem-se de, com todas essas dificuldades, continuar lutando em nome de um Brasil mais justo, igualitário e melhor para todos os que aqui vivem.


Artigo do leitor: Ivo Monteiro Sales

Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/ece_incoming/sem-motivos-para-comemorar-2966296





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