COMEMORAÇÃO PELO 'DIA DO ADVOGADO'
No último dia 11 (quarta-feira) foi comemorado o Dia do Advogado no Brasil.
Por todo o país houve manifestações, principalmente cobrando mudanças no
Judiciário face à conhecida morosidade, dentre outras mazelas.Contudo não se
buscará aqui tratar desse tema tão debatido, mas sim de outro que aflige a
maioria dos causídicos: a desvalorização da profissão.
A advocacia sempre foi uma carreira respeitada, e seus personagens, pessoas
tidas como possuidoras de intelecto privilegiado e de situação econômica
confortável. A realidade atual é muito diferente, e a profissão mantém uma
aparência, um status do que já não se faz presente.
O que há é uma elite de causídicos, formada principalmente pelos sócios dos
grandes escritórios que representam concessionárias de serviços públicos e que
enriquecem absurdamente, salvo raríssimas exceções, enquanto a grande massa de
advogados enfrenta inúmeras dificuldades para sobreviver e tentar um dia se
estabelecer no mercado.
Muitos dos grandes escritórios de advocacia no Rio de Janeiro não contratam
mais advogados, não assinam suas carteiras, mas os admitem como "advogados
associados", pagando-lhes em média R$ 1.200,00, sem direito a auxílio
transporte, alimentação, qualquer outro benefício e com expediente das 9 às 18h,
desrespeitando o piso salarial da categoria bem como a jornada de trabalho
prevista no Estatuto da Advocacia.
Não é necessário investigar. A constatação se faz ao ler os classificados nos
jornais de grande circulação, bem como os sites de vagas de emprego. Esses
mesmos escritórios contratam advogados para somente fazer audiências, com
valores que chegam a R$ 11,00.
Por esse motivo, muitos, para sobreviverem dignamente, utilizam-se de métodos
que vão de encontro ao Estatuto de Ética e Disciplina da OAB, exemplificados em:
utilizar-se de agenciadores de causas, que passam o dia em frente às delegacias
do trabalho e das principais concessionárias de serviços públicos com o objetivo
de atrair consumidores com problemas para os escritórios; trabalhar em conjunto
com outras atividades, como administração e corretagem de imóveis; utilizar-se
de publicidade com previsão de consulta grátis, pagamento facilitado e até
consulta ao SPC e ao Serasa.
O Conselho Federal da OAB recentemente decidiu criar comissão para verificar
casos de realização de audiências por valor irrisório. Isso ainda é muito pouco
do que se espera do Conselho Federal da OAB, a qual tenta lutar ferrenhamente
contra as injustiças do país, mas é incapaz de olhar para as dificuldades que
seus integrantes enfrentam no dia-a-dia.
Talvez isso mude no dia em que o Conselho Federal for eleito por voto direto
de todos os advogados do Brasil, pois é incompreensível que uma entidade que
luta por democracia tenha sua diretoria maior escolhida indiretamente.
Os advogados do país não têm o que comemorar, mas sim orgulharem-se de, com
todas essas dificuldades, continuar lutando em nome de um Brasil mais justo,
igualitário e melhor para todos os que aqui vivem.
Artigo do leitor: Ivo Monteiro Sales
Fonte: O Globo
http://oglobo.globo.com/ece_incoming/sem-motivos-para-comemorar-2966296
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